Velhas práticas, novos tempos
A imprensa tem veiculado a insatisfação
dos mais variados segmentos sociais com o desarranjo da administração
municipal, sob a responsabilidade do prefeito João Henrique. Neste debate, as oposições
ao Governador Wagner têm buscado a responsabilização do governador pelos
desacertos do prefeito. É uma manobra desajeitada antecipar a campanha
eleitoral estadual de 2014. Não é justo queimar 2 anos de trabalho do
governador. Até a Copa do mundo, muita água rolará embaixo da ponte. Mais do
que uma impropriedade política, este movimento ressuscita uma velha pratica dos
tempos da ditadura, que foi a subordinação da política municipal em favor dos
governos estaduais e federal. Com o advento do golpe militar de 1964, ainda aos
15 anos de idade, o que mais me impressionou foi a extinção das eleições para
prefeito nas capitais estaduais, bem como a supressão dos subsídios dos
vereadores. A sucessão de prefeitos biônicos não mostrou nada de melhor do que
os prefeitos da minha infância:Hélio Machado, Heitor Dias e Virgildásio. Consolidou-se
a concentração de poderes no governo do Estado em detrimento do prefeito da
capital.
A redemocratização trouxe consigo a
retomada do pacto federativo e o maior respeito às gestões municipais. Negociar
com as prefeituras, sim; apoiar prefeituras também; interferir nas
administrações municipais, nunca. Esse tem sido o comportamento do Governador
Wagner nestes 6 anos de governo. O Sr. Prefeito bem que tentou jogar com a
sobrevivência de velhas práticas e a emergência de novos tempos, sempre de olho
na opinião pública. No primeiro mandato do governador, a PMS encolheu-se,
sumiu, em todos os problemas relativos ao Pelourinho, como se este não fosse o
“centro da cidade”. Todos os ônus para a administração estadual. Quanto ao
Carnaval, internacionalmente famoso e produtor de grandes retornos, a PMS
jamais abriu mão do controle do Carnaval. Mais recentemente o Prefeito João
Henrique tentou monopolizar as decisões sobre a preparação da cidade para a
copa 2014. Insistiu o quanto pode em um modelo de mobilidade urbana centrado no
chamado BRM (ônibus rápido) em oposição à proposta do governador do grande
metrô de superfície. A birra foi tal que o Prefeito viajou para Madri só para
não assinar o convênio com o governo do Estado!
Governador
e Prefeito não rezam na mesma cartilha. São administrações diferentes, cada uma
com a sua temporalidade, com orientações políticas diferentes e conflitantes.
Que cada um assuma as suas responsabilidades. Os problemas da gestão municipal
resultam das decisões do seu próprio gestor.
Estas divergências acentuam-se no segundo mandato do prefeito João
Henrique. Na campanha eleitoral, o prefeito comportou-se como se estivesse
sendo traído pelos aliados que tinham fornecido os quadros que sustentaram o
seu primeiro mandato. Brigou com o PT, com o PCdoB, com o PDT, jogou-se nos
braços do PMDB, para logo em seguida repudiá-lo. Parece que o prefeito entendeu
sua reeleição como uma vitória individual. Segundo a sabedoria popular, a
reeleição “subiu para a cabeça do prefeito”. Enveredou por uma espécie
populismo personalista. Diriam os psicólogos leigos que ele passou a apresentar
os sintomas de “delírio de ascensão” e em seguida de “vertigem de apogeu”. Foi
buscar na periferia de Salvador um político derrotado no seu município,
entronizado como uma espécie de 1º ministro, já candidato à sua sucessão. O que
foi ruim para Lauro de Freitas seria bom para Salvador? O partido que ele escolheu não tem quadros
experimentados para assegurar uma boa administração municipal. Às vésperas da
Copa do mundo não basta caiar os meio-fios ou dar banhos de luz. O grande
desafio nesta eleição municipal é a escolha de uma nova equipe capaz de dar um
choque de gestão na Prefeitura Municipal de Salvador. Esperemos para ver quais
as propostas de gestão e de equipe que serão apresentadas pelos
candidatos.
Publicado no jornal Tribuna da Bahia, em 09 de abril de 2012.
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