Resgnificação do Dois de Julho, a Festa do Povo




Desde a sua posse, o governador do Estado, Jaques Wagner, tem buscado a resignificação do 2 de Julho como data de referência nacional. O que esteve em disputa na Bahia foi a Independência do Brasil. A palavra-chave para entender a Guerra de Independência é Recolonização.

No sentido contrário da progressiva autonomia política e econômica do Reino do Brasil, desde janeiro de 1808, com a abertura dos portos do Brasil ao comércio internacional, surgiu nas Cortes – Assembleia Constituinte portuguesa – um movimento político nacionalista radical, pela regeneração do Reino de Portugal, devastado pelas guerras napoleônicas e praticamente ocupado pelas tropas britânicas, comandadas pelo Lord Beresford.

As principais medidas que compunham o pacote de recolonização eram: a volta de D. João VI a Lisboa, de modo a restaurar o Reino de Portugal como metrópole do Império Português; o restabelecimento do monopólio português sobre o comércio exterior do Brasil, revogando a Abertura dos Portos de 1808; a exclusividade dos nativos de Portugal no exercício de todos os cargos públicos no Brasil, inclusive na força armada.

Para este partido nacionalista português, o Brasil deveria pagar a recuperação econômica e administrativa de Portugal. E os brasileiros disseram não!

A Bahia foi o cenário do afrontamento entre os dois partidos antagônicos, o da recolonização, dos portugueses, e o da Independência, dos brasileiros.

A corporação comercial portuguesa na Bahia e suas matrizes em Portugal fizeram vir para a Bahia a Legião Constitucional Lusitana, sob o comando do general Inácio Madeira de Melo, que expulsou as tropas do Reino do Brasil da Cidade do Salvador em 19 de fevereiro de 1822 e assumiu, como ditador, o governo da Bahia, para impedir a independência do Brasil.

A reação brasileira veio das vilas do Recôncavo baiano, que organizaram o primeiro governo independente do Brasil, na Vila de Nossa Senhora do Rosário do Porto da Cachoeira, em 25 de junho de 1822, dois meses antes do 7 de Setembro.

Para celebrar esta iniciativa dos baianos, o governo do Estado propôs à Assembleia Legislativa a transferência da capital da Bahia para a cidade da Cachoeira a cada 25 de Junho, e assim o foi desde 2008. Isto implica o reconhecimento do protagonismo do interior da Bahia na libertação da sua capital.

Além do 1º Governo Provisório da Cachoeira, o Exército Brasileiro teve o seu batismo de fogo com o nome de Exército Pacificador, em Pirajá, composto por soldados de várias classes sociais, de várias cores e de variada origem regional brasileira, sob o comando do bolivariano general Pedro Labatut.

Do mesmo modo, a Marinha de Guerra do Brasil arvorou pela primeira vez a Bandeira brasileira em combate, a partir de abril de 1823, com a frota de nove navios comandados pelo almirante Cochrane e a flotilha de oito escunas artilhadas comandadas pelo capitão João das Botas.

Para celebrar o nascimento destas instituições nacionais, o governador incluiu nas comemorações do 2 de Julho uma cerimônia de continência à Bandeira, no Forte de São Marcelo, no dia 2 de Julho, às 14 horas, repetindo o gesto de vitória de João das Botas em 1823, bem como a homenagem à Ala Esquerda do Exército Pacificador, que entrou vitorioso no dia 2 de Julho pelo norte da cidade, estacionando no Forte de São Pedro, quando o cortejo cívico passar em frente a este tradicional bastião das tropas brasileiras.

Por fim, a resignificação do 2 de Julho implica a restauração plena do protagonismo das forças populares na Guerra de Independência da Bahia.

O grande símbolo do patriotismo popular é o caboclo. Para celebrar este protagonismo, a Fundação Pedro Calmon (FPC) estará ao pé do caboclo, no Campo Grande, entre os dias 3 e 5 de julho, onde desenvolve uma série de atividades culturais.

No dia 5 de julho, acompanharemos todos a volta do caboclo para o seu barracão na Lapinha, o que repete o movimento de desmobilização do Exército Pacificador, no dia seguinte ao Dia em que o Povo Ganhou, quando as elites brasileiras excluíram o povo da construção do Brasil independente, impondo a monarquia e a escravidão contra a vontade popular.

Este contencioso tem animado, ao longo de 186 anos, a participação dos baianos nesta festa patriótica do povo da Bahia.

Ubiratan Castro de Araújo é membro da Academia de Letras da Bahia, diretor-geral da Fundação Pedro Calmon/Secult (Secretaria de Cultura do Estado da Bahia)
Publicado pelo jornal A Tarde no dia 3 de julho de 2009.

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