Projeto de futuro




Filho separado de pai, quebrando as linhagens que identificavam as etnias e nações; filha separada de mãe, destruindo as famílias que consolidavam as solidariedades grupais: esta foi a tragédia que se abateu sobre os povos africanos. Desde meados do século XV até meados do século XIX, mais de 20 milhões de homens e mulheres foram arrancados da África e mais de 12 milhões chegaram às Américas. Acorrentados, vendidos como mercadorias (peças), jogados na máquina infernal dos engenhos e plantações, com seu trabalho, com a sua inteligência, com as suas culturas, eles construíram o Novo Mundo. Os muitos milhões de seus descendentes formam hoje esta Nova África desterrada que nós chamamos de Diáspora Africana.

Os que ficaram na Velha África suportaram durante mais de um século a dominação colonial européia, que explorou as suas forças, que sugou as suas riquezas naturais, que aboliu suas independências e liberdades.

Durante meio milênio, os africanos e seus descendentes em todo o mundo estiveram subordinados à expansão e desenvolvimento de um capitalismo mundializado, com sede na Europa, para a afirmação de uma pretensa superioridade da civilização ocidental. Resistentes em toda a parte, durante todo o tempo, contra a escravidão, contra o colonialismo, contra o racismo, contra as desigualdades socioeconômicas em cada país e contra as desigualdades impostas nas relações internacionais, este mundo africano levantou-se contra todas as formas de opressão.

Grandes são os desafios que se impõem à II Conferência dos Intelectuais da África e da Diáspora, que se realiza em Salvador, entre 12 a 15 deste mês. No âmbito da Conferência e do Fórum de Diálogos, intelectuais e líderes políticos discutirão os temas da Diáspora e do Renascimento Africano, e produzirão uma Carta de Salvador, na qual estarão indicadas as diretrizes de uma política internacional capaz de tornar prioritário o desenvolvimento social e econômico de africanos e de afrodescendentes em todo o mundo.

A força de nossa aliança está em nossa herança cultural comum. Para cultivar nossas identidades, várias atividades culturais estarão sendo realizadas nestes dias, em toda a cidade. Serão exposições, espetáculos de música, de dança, de teatro, lançamento de livros, mostras de filmes, feiras e degustações das delícias de nossa culinária.

Unidos pela nossa ancestralidade comum, solidários no presente e referenciados por um projeto de futuro, certamente poderemos estimular a formação de uma opinião pública internacional africana e construir uma nova parceria pela igualdade e pelo desenvolvimento, capaz de estabelecer uma interlocução eficaz com os demais blocos e agrupamentos que gerem interesses dos países que se definem como ricos, predominantemente brancos. Deste modo, contribuiremos efetivamente para uma ordem internacional fundada no respeito a todos os povos, na diversidade cultural com igualdade e na repartição eqüitativa de todos os bens materiais e imateriais produzidos pela humanidade.


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